Tudo o que você precisa saber sobre Drenagem anômala total de veias pulmonares (DATVP)

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Olá meus queridos, tudo bom? Este é um dos conteúdos do meu do projeto “Pupilos da Dra. Vanessa”, que irá contar com a presença de estudantes e profissionais da área da saúde, trazendo conteúdos exclusivos para vocês!

Por: Mabelle Fragoso e Dra. Vanessa Guimarães CRM 118.641

DRENAGEM ANÔMALA TOTAL DE VEIAS PULMONARES

Prevalência na população:

A drenagem anômala total de veias pulmonares é uma anomalia congênita rara e corresponde a cerca de 1-2% das cardiopatias congênitas. Sua prevalência na população é cerca de 0,05 para cada 1000 nascidos vivos e ocorre com maior frequência no sexo masculino.

Faixa etária

Como se trata de uma cardiopatia congênita, a drenagem anômala total de veias pulmonares acomete o indivíduo desde a vida intrauterina.

O que é a doença

A drenagem anômala total de veias pulmonares (DATVP) ocorre quando as todas as veias pulmonares drenam para o átrio direito e não para o esquerdo como o habitual. Dessa forma, todo aporte sanguíneo, sistêmico e pulmonar, chega ao lado direito do coração, ocorrendo uma mistura do sangue oxigenado que vem dos pulmões com o sangue pouco oxigenado que vem da circulação sistêmica. Como não há retorno venoso para o átrio esquerdo, essa cardiopatia é dependente de uma comunicação interatrial e o tamanho dessa comunicação irá determinar como será a distribuição do fluxo sanguíneo nos compartimentos cardíacos. Como a quantidade de sangue que chega ao átrio direito é muito significativa, mesmo na presença da CIA, boa parte do sangue passa para o ventrículo direito ocasionando um hiperfluxo pulmonar. A DTVP pode ser classificada em quatro tipos distintos, sendo eles: Tipo supracardíaco, tipo cardíaco, tipo infracardíaco e misto. Além disso, a DATVP pode se apresentar na forma não obstrutiva ou obstrutiva, que é mais comum no tipo infracardíaco, e nesses casos as manifestações clínicas como de IC irão se manifestar de forma mais intensa e precoce.

Sintomas

De forma geral, as manifestações clínicas irão variar se a DATVP se apresenta de forma obstrutiva ou não obstrutiva, isso é, se há ou não estenose pulmonar. Nos pacientes em que não ocorre obstrução e existe um fluxo considerável pela CIA, a doença pode não manifestar sintomas ao nascimento, e somente após um mês de vida começam a aparecer taquipnéia, cansaço na hora das mamadas e baixo ganho ponderal que falam a favor de Insuficiência Cardíaca. Nesses casos, a cianose pode ser imperceptível ou bem discreta. Já quando o paciente apresenta obstrução pulmonar, os sinais de insuficiência cardíaca e a cianose são mais evidentes e a descompensação ocorre logo nos primeiros dias de vida.

Na forma não obstrutiva, ao exame físico percebe-se sinais de edema leve e na ausculta observa-se hiperfonese e desdobramento fixo da 2ª bulha, com possibilidade da 3ª e até a 4ª bulha estarem presentes. O sopro é sistólico do tipo ejetivo e é identificado em foco pulmonar. Em geral, os sintomas de IC começam a se agravar em torno dos 6 meses. Já na forma obstrutiva, é observada cianose central moderada a intensa, o paciente apresenta grande desconforto respiratório e sinais de baixo débito cardíaco, descompensando subitamente. No exame físico, é observado edema periférico e hepatomegalia. Na ausculta cardíaca é possível perceber um ritmo em galope com presença da 3ª bulha, o sopro pode ser discreto ou até mesmo ausente e na ausculta pulmonar são observados crepitações.

Como é diagnosticada

O diagnóstico da drenagem anômala de veias pulmonares é realizado através de exames como eletrocardiograma, que evidencia sinais de sobrecarga ventricular direita, mas especialmente através do ecocardiograma(ECO), que através da tecnologia do fluxo de cores, tem permitido a identificação cada vez mais precoce da doença. Além disso, o ECO possui maior sensibilidade e especificidade para o diagnóstico, pois torna possível a avaliação do local exato de drenagem, se há ou não obstrução e a presença de CIV. Outro exame que ajuda no diagnóstico é a Radiografia de Tórax(RX) que pode mostrar cardiomegalia com hiperfluxo pulmonar. Pode também surgir uma imagem denominada “boneco de neve” que ocorre mais frequentemente em crianças maiores com o tipo supracardíaco.

Além desses exames, pode ser também realizado cateterismo, que é um método mais invasivo e é reservado para casos em que se deseja avaliar a diferença de pressão nas câmaras e também permite identificar a estenose pulmonar em casos de difícil elucidação.

O que causa a má formação

De forma geral, alguns fatores externos podem influenciar no aparecimento de cardiopatias congênitas, como o uso de drogas lícitas e ilícitas, medicamentos, compostos químicos e fatores genéticos. Esses fatores podem predispor a má formação que ocorre ainda na vida intrauterina.

Durante a formação embriológica do coração, a veia pulmonar primitiva se forma como uma evaginação da parede atrial dorsal à esquerda do septo primum. Conforme o átrio vai aumentando de tamanho a veia pulmonar primitiva vai se incorporando à parede atrial esquerda e se divide em seus quatro veias pulmonares. Quando esse processo ocorre de forma diferente e a incorporação não é no átrio esquerdo e sim no direito ou em algum outro vaso sistêmico, ocorre a drenagem anômala total de veias pulmonares.

Classificação

A DATVP é cardiopatia cianogênica com shunt bidirecional, e pode ser classificada em quatro tipos distintos, são eles:

  • Tipo supracardíaco: É o tipo mais comum, correspondendo a cerca de 50% dos casos e ocorre quando a veia pulmonar drena para a veia cava superior através da veia cava superior esquerda e/ou pela veia inonimada.
  • Tipo cardíaco: Representa 20% dos casos e ocorre quando a quando a drenagem da veia pulmonar comum vai para o seio coronário ou até mesmo diretamente para o átrio direito.
  • Tipo infracardíaco: Também chamado de tipo subdiafragmático, ocorre em cerca de 20% dos casos e é caracterizado pela drenagem da veia pulmonar comum para veia cava inferior, sistema porta, ducto venosoe veias hepáticas. Sua prevalência é alta no sexo masculino (4:1).
  • Misto: Está presente em 10% dos casos e ocorre quando há uma drenagem de um ou mais tipos citados acima.

Cuidados

Para crianças portadoras de DATVP quando vão realizar algum procedimento médico ou odontológico é recomendado utilizar antibióticos como profilaxia pelo risco de endocardite.

Prevenção

Diante de um paciente portador dessa cardiopatia é necessário investigar as possíveis causas que podem ter precipitado a má-formação. Quando é de causa genética, o aconselhamento genético é necessário para prevenir a ocorrência de outras cardiopatias congênitas ou até mesmo problemas extra cardíacos. Além disso, é de suma importância alertar sobre o uso de substâncias que podem precipitar esses eventos, como uso de drogas e medicamentos.

 Tratamento         

O tratamento definitivo consiste no procedimento cirúrgico, mas para que ele seja feito é necessário estabilizar clinicamente o paciente dos sintomas da Insuficiência Cardíaca. Dessa forma, o tratamento clínico consiste em tratar os sintomas de congestão no tipo não obstrutivo e no tipo obstrutivo podemos ofertar oxigênio e diuréticos. Além disso, se o bebê possui edema pulmonar grave é necessário intubação orotraqueal e ventilação com pressão positiva e pode ser necessário realizar uma atriosseptostomia com balão em casos que é preciso aumentar a CIA. O tratamento cirúrgico está indicado para todos os pacientes, naqueles que possuem o grau obstrutivo deve ser realizado o mais precocemente possível, e naqueles com o tipo não obstrutivo pode ser feita de 4 a 12 meses, desde que estabilizados clinicamente. Vale ressaltar, que as técnicas cirúrgicas irão se diferenciar de acordo com os tipos de Drenagem Anômala Total de Veias Pulmonares.

Evolução

O seguimento do paciente é necessário, pois existem casos em que se descobre estenose pulmonar tardiamente. Além disso, o paciente portador de DATVP está mais susceptível à desenvolver quadros de arritmia como as disfunções de nó sinusal.

 Cura

O tratamento cirúrgico corrige a DATVP. De forma geral, metade dos pacientes com a forma não obstrutiva e que não foram submetidos à correção cirúrgica conseguem chegar à vida adulta, mas aqueles que possuem a forma obstrutiva tem baixíssima expectativa de vida, em torno de 2 semanas. No entanto, uma complicação ainda comum no pós operatório é a hipertensão pulmonar que aumenta as chances de morbimortalidade.

Convivendo com o problema

É necessária uma rede de apoio multidisciplinar no acompanhamento do paciente e da família, isso inclui não só os profissionais da saúde, bem como a família, escola e sociedade. Normalmente, os pacientes que precisam de algumas restrições são aqueles que tiveram formas mais graves ou que não fizeram a correção precocemente. Já aqueles sem demais complicações conseguem realizar suas atividades sem grandes problemas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. Protocolo de Acompanhamento Pós-Operatório de Cirurgia Cardíaca, Secretaria Municipal de Saúde, 2014.
  2. PARK, M, K. et al. Manual Park de Cardiologia Pediátrica, 5ª ed. Editora Elsiver, 2016.
  3. SILVA, Célia M. C. et al . Drenagem anômala total das veias pulmonares, em sua forma infracardíaca: desafio diagnóstico. Bras. Cardiol.,  São Paulo ,  v. 88, n. 4, p. e81-e83,  Apr.  2007 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066-782X2007000400026&lng=en&nrm=iso>. access on  02  Aug.  2020. https://doi.org/10.1590/S0066-782X2007000400026.
  4. ATIK, Fernando Antibas et al . Drenagem anômala total das veias pulmonares: terapêutica cirúrgica dos tipos anatômicos infracardíaco e misto. Bras. Cardiol.,  São Paulo ,  v. 82, n. 3, p. 259-263,  mar.  2004 .   Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066-782X2004000300006&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  02  ago.  2020. https://doi.org/10.1590/S0066-782X2004000300006.
  5. BAFFA, J, M. et al. Drenagem Anômala Total de Veias Pulmonares(DTVP). Manual MSD, março 2019. Disponível em https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-infantil/defeitos-cong%C3%AAnitos-do-cora%C3%A7%C3%A3o/drenagem-an%C3%B4mala-total-de-veias-pulmonares-datvp
  6. BURNS, D, A, R et al. Tratado de Pediatria: Sociedade Brasileira de Pediatria. 4ª ed. Barueri, SP : Manole, 2017.


– Dra. Vanessa Guimarães: Cardiologia pediátrica, UTI cirúrgica e Transplante Cardíaco –

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