A obesidade infantil é um problema de saúde pública crescente, com raízes que vão muito além da alimentação. Neste artigo, a Dr.ᵃ Vanessa Guimarães conversa com a Dr.ᵃ Maria Amélia, pediatra, para esclarecer os fatores que contribuem para o excesso de peso em crianças e como podemos atuar para prevenir e tratar essa condição de forma eficaz e humanizada.
Quais são os principais fatores de risco?
A obesidade é influenciada por uma combinação de três grandes grupos de fatores:
- Genéticos: a criança pode herdar genes do pai e da mãe que aumentam sua propensão ao ganho de peso. Mas a genética sozinha não explica: é a interação com o ambiente e o comportamento que ativa ou inibe esses genes.
- Ambientais: incluem desde o ambiente intrauterino (como diabete gestacional ou restrição de crescimento fetal) até fatores como:
- Estilo de vida da família
- Excesso de alimentos ultraprocessados
- Falta de espaços para brincar
- Exposição à propaganda de alimentos não saudáveis
- Comportamentais: envolvem como a criança aprende a se alimentar, influenciada diretamente pelos pais. Práticas como alimentação em frente à TV, uso de comida como recompensa e trocas alimentares inadequadas aumentam o risco de obesidade.
Por que se come mais do que se gasta?
O excesso de peso está ligado ao apetite hedônico, ou seja, comer por prazer e recompensa. Alimentos industrializados e altamente palatáveis estimulam regiões do cérebro associadas à recompensa, criando um ciclo vicioso de consumo.
Como prevenir a obesidade infantil?
A prevenção começa ainda na gestação e deve continuar ao longo da infância:
- Acompanhamento pediátrico com avaliação de peso, altura e IMC
- Aleitamento materno exclusivo por 6 meses
- Introdução alimentar correta, com alimentos in natura
- Evitar açúcar nos dois primeiros anos e moderar o sal
- Estimular refeições em família e sem distrações
- Evitar estocar guloseimas em casa
- Incluir a criança na preparação dos alimentos
E quando a criança já tem sobrepeso ou obesidade?
O primeiro passo é reconhecer o problema e traçar um objetivo junto com a família. Pode ser:
- Reduzir o ganho de peso
- Estabilizar o peso atual
- Promover a perda de peso, de forma gradual e saudável
A participação da família é essencial, bem como o acompanhamento com profissionais como nutricionistas, psicólogos e educadores físicos.
Comorbidades associadas à obesidade
A obesidade infantil pode desencadear doenças sérias:
- Dislipidemia: colesterol e triglicérides altos
- Hipertensão: pressão elevada na infância
- Diabetes tipo 2
- Apneia do sono
- Problemas ortopédicos
- Impactos emocionais e sociais, como bullying, baixa autoestima e queda no rendimento escolar
O diagnóstico precoce e o tratamento adequado fazem toda a diferença na reversão desses quadros.
Quando encaminhar para um especialista?
O encaminhamento para especialistas como endocrinologistas e cardiopediatras é indicado em casos com:
- Diabetes tipo 2
- Hipertensão persistente
- Dislipidemias não controladas com mudanças de estilo de vida
O uso de medicamentos pode ser necessário, dependendo da gravidade e idade da criança.
Conclusão
A obesidade infantil é um desafio complexo que exige envolvimento da família, da escola, dos profissionais de saúde e também da sociedade. Intervenções precoces, mudanças de hábitos e políticas públicas mais eficazes são fundamentais para garantir um futuro mais saudável para nossas crianças.